
Durante muitos anos e até décadas, o futebol cearense tinha como principais reveladores de talentos os 3 grandes da Capital: Ceará, Ferroviário e Fortaleza. No entanto, as últimas temporadas vão mostrando que o arcabouço desse clichê está em metamorfose.
Só para se ter ideia, desde 2010, quando as categorias de base no Estado deram um salto com competições organizadas e oficializadas pela Federação no Sub-13, Sub-15, Sub-17 e Sub-20, foram realizadas 49 competições.
O Ceará venceu 17, o Fortaleza 15. Enquanto as outras 17 tiveram Floresta (com 5 taças), União (3), Horizonte, Atlético e Estação (2) e Cefat/Tirol, Tiradentes e Maranguape (1).
É possível perceber que o Ferroviário não ganhou nenhuma competição, enquanto o Floresta levantou 5 troféus. O clube da Vila Manoel Sátiro faz um trabalho arrebatador com uma estrutura de causar inveja a qualquer clube daqui e até de outros estados.

O Lobo, como é carinhosamente chamado o mascote do clube, realiza todos os meses peneiras para angariar talentos, formar atletas e assim fazer sucesso na base e também no profissional, onde disputa a Série C do Brasileiro.
Mas a chegada do Tirol é outro ponto que precisa ser observado e destacado. Ainda mais depois da conquista do título de Campeão Cearense Sub-20, ao eliminar o Ceará nas semifinais e derrotar o Fortaleza na Final. São triunfos assim que dão uma dimensão ainda maior do que está por vir.
O clube, que até o início do ano era chamado de Grêmio Pague Menos, deixou o nome da Farmácia de lado, se tornou uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), firmou um convênio exclusivo com o Flamengo para se tornar o único centro de talentos do clube carioca no Nordeste e monta uma enorme estrutura.

O CEO do clube, Deusmar Queirós, já avisou que o intuito da agremiação não é competir no profissional com Fortaleza, Ceará, Ferroviário e demais equipes tradicionais, mas, sim, formar e revelar atletas.
Não bastasse todos os atributos para se tornar uma potência na base, o Tirol colocou como principal objetivo justamente ser uma potência. É a tal da “mentalidade vencedora”, de buscar um objetivo, colocar em prática, não se incomodar com os insucessos (que irão acontecer) e não haver limite para conquistar as vitórias.
O futebol cearense vive um momento único em sua história de pouco mais de 100 anos. Campeão brasileiro de aspirantes, Campeão brasileiro feminino, Campeão do Nordeste, está na elite nacional, disputa competições internacionais e participa das principais competições de base do País. Pela 1ª vez, 4 equipes estarão disputando a Copa São Paulo 2023 (Ceará, Floresta, Fortaleza e Tirol).
Longe da xenofobia e do preconceito, o futebol cearense ainda abre espaço para crescer na base da pirâmide. Basta ir a qualquer clube para comprovar: jovens, pretos, pobres e de várias regiões (Norte e Nordeste) são a maioria e o principal, se destacam.
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Agora, é preciso semear. As sementes foram plantadas, há colheitas, é verdade, mas a irrigação precisa ser perene, robusta e ao mesmo tempo fiscalizada. Há um oásis claramente sendo desenhado e construído no meio de uma região preterida pelo eixo.
Vocês já viram quantos jogadores de clubes do Norte e do Nordeste (com exceção da Bahia) são convocados e chamados para participar das Seleções Brasileiras de base? Não chega sequer a 1%.
Então, é hora de mudar essa realidade. Os novos protagonistas estão surgindo e pelo jeito querem aparecer em outros cenários.