Não existe quem defenda mais os Campeonatos Estaduais do que este jornalista que escreve. Pode haver igual, porém, com mais ímpeto, eu duvido.

Então, posso argumentar sem o receio de ser acusado de tocar o terror pelo fim dos Campeonatos Estaduais. Infelizmente, essa pandemia, que já causou milhares de mortes e desempregos e parece não ter fim, só amplia o desalento também no mundo do futebol.

Sem o torcedor nos estádios e sem uma economia perene, a crise financeira atinge não só os mais ricos, mas chega à classe mais baixa do futebol com ainda mais vigor e derrubando aqueles que não conseguem se sustentar por muito tempo.

Só que não é possível fazer e disputar um Estadual para se quebrar no meio da competição, com os times abandonando durante o campeonato, com atletas e comissão técnica passando necessidades, sendo despejados de hotéis, pousadas, sem ter onde ficar, viajando em ônibus impróprios, jogando em estádios com gramados péssimos, vestiários inexistentes e sem receber um real por isso.

Há dois meses, pela Série C do Cearense, o Calouros do Ar, clube tradicional do Estado e que já foi campeão estadual, abandonou a competição um dia antes do jogo de estreia. Pela Série A do Cearense, no mês passado, o Caucaia perdeu o apoio da prefeitura e ameaçou sair do campeonato.

Agora é a vez do Barbalha. A situação do clube do Cariri é desalentadora, com uma crise financeira em que foi preciso o Sindicato dos Atletas pagar as diárias do hotel para os jogadores não serem despejados, poderem se alimentar e ter um local para dormir.

Nesta segunda-feira, 01, pela 5ª Rodada do Campeonato Cearense, o Barbalha foi goleado por 8×0. O time foi a campo com apenas 12 jogadores, o único reserva não era nem goleiro, ou seja, se o camisa 1 se machuca, iria para o gol um jogador de linha. Se não bastasse, no vídeo abaixo o leitor pode ver, o pênalti cometido pelo defensor Lucas é um acinte ao bom senso no futebol. Surreal!

O Campeonato Cearense já está sem transmissão pela TV (primeira vez nos últimos 15 anos), já não tem Naming Rights (primeira vez nos últimos dois anos), já não tem patrocinador e se continuar nesse ritmo o fracasso vai ser inevitável.

Aos que já começam a jogar pedra na Federação, organizadora do estadual, como se fosse a única culpada por todo o mal que existe no futebol cearense, deixa eu explicar algo que talvez muitos não saibam, ou tentam não querer saber.

Quem escolhe o presidente da Federação são os clubes. Quem escolhe a fórmula de disputa das competições são os clubes. Quem aprova o regulamento dos campeonatos são os clubes. Quem aprova as contas da federação são os clubes.

A Federação tem sua parcela de culpa, é obvio, é ela quem dirige o futebol cearense, mas ela é feita, organizada, planejada e escolhida pelos clubes.

E a maioria desses clubes e a própria FCF é feita de pessoas decentes e que querem o melhor para o futebol cearense. Mas só que de vez em quando aparecem uns que se deslumbram com as conquistas do Flamengo, com o dinheiro do Palmeiras, com a venda de um jogador por milhões de reais e pensa que fazer futebol é como vender água no calor.

E olhe que ainda aparecem aqueles aproveitadores, que só pensam no interesse próprio e não estão nem aí para jogadores, resultados, treinadores ou para o próprio clube, só querem saber da grana. Infelizmente, esses estão aparecendo com mais freqüência e se continuarem surgindo é melhor acabar o estadual. Não dá para uma competição continuar dessa forma.

Federação, clubes, dirigentes e jogadores já deviam ter se reunido para reverem alguns conceitos. Porém, parece que só vão tomar alguma medida quando não houver mais jeito.

📸 Pedro Chaves/FCF