Para começar este artigo é preciso voltar no tempo pouco mais de 4 anos. Em julho de 2018, ao terminar a Copa do Mundo na Rússia, eu tinha dito pra mim mesmo que faria de tudo para ir ao Mundial no Qatar. Só que não imaginava que aconteceria tantas mudanças na minha vida.

De forma surpreendente, acabei demitido do Sistema Verdes Mares. Foi uma pancada muito forte, porque não esperava. Ainda mais depois do ótimo trabalho na Rússia. Mas graças a Deus, há amigos que são verdadeiros anjos da guarda. Alguns pedem para eu não revelar o nome deles. Vou resguardar e atender o pedido deles.

Surgiu uma chance na Federação Cearense de Futebol. Fui coordenar a TV da FCF. Foi um trabalho magistral e o sonho de ir à Copa em 2022 estava de pé. Mas com a pandemia, infelizmente, em janeiro de 2021, aconteceram alguns cortes de funcionários não apenas na FCF, mas em todos os veículos de comunicação no mundo todo, e entendi demais o motivo de sair.

Resolvi, então, recomeçar um projeto pessoal. O Blog do Kempes. Eu havia iniciado em 2013, que na época até fez sucesso, só que depois de ser contratado pelo SVM ficou inviável continuar. A ideia agora era voltar a ser repórter. Algo que sempre gostei. Estar nos clubes, nos jogos, comentar, informar, noticiar, opinar… Enfim, retornar ao mercado depois de quase 3 anos.

O sonho de ir à Copa parecia mais distante, afinal, eu não conseguia nem sequer credenciar meu Blog na CBF para acompanhar os jogos da Copa do Nordeste, imagine na Fifa? Pedi a um amigo e através dele e à rádio que me credenciou, pude trabalhar nos estádios.

O Blog estava aos poucos crescendo, ganhando leitura, seguidores nas redes sociais e as matérias indo parar em vários veículos de comunicação. Em seguida, outro anjo da guarda me ajudou e, enfim, consegui o tão sonhado credenciamento na CBF.

Fui convidado pelos amigos Weberte Lemos e Bechara (anjos também) para me juntar no projeto do TVC Esporte Clube. Programa aos domingos à noite na TVC. Então, junto com o árduo trabalho no Blog, fui atrás de participar das entrevistas coletivas da Seleção Brasileira. Seria uma chance de ficar perto da CBF para ir atrás do sonho de ir à Copa.

No meio desse sonho, surgiu uma hérnia da cervical, em julho de 2021. Eu não conseguia ficar sentado no vaso para fazer as necessidades sem sentir dor. Foram muitas sessões de fisioterapia, RPG, Pilates e Psicóloga. Eu fazia, todos os dias, 6 sessões de gelo por 30min e mais compressa quente por 10min.

No final do ano passado, perguntei a um colega jornalista em SP se ele iria para o Qatar. Ele me informou que seria difícil, pois falavam que seria o Mundial mais caro da história, que o custo seria altíssimo de hospedagem, alimentação, transporte etc.

Sabe aquela coisa de entender que nem adiantava mais tentar? Mas algo lá no fundo me dizia para não desistir. Fiz meu pedido de credenciamento. E aqui abro um parêntese porque depois vou precisar lançar um livro para explicar o tão complexo e tão difícil foi para conseguir o credenciamento pra Copa. Tudo porque minha função no site da Fifa estava errada. Mas novamente, graças a anjos da guarda, consegui.

Fui atrás de patrocinador para bancar a ida ao Qatar. Afinal, todos falavam que seria um absurdo e nenhuma veículo cearense iria mandar repórter, devido aos preços estratosféricos.

Porém, quando se tem amigos, que na verdade são anjos da guarda, a gente descobre caminhos mais fáceis. A Fifa disponibilizava hotéis para jornalistas com um preço menor que o do mercado. Eu nem sabia disso. Consegui com um desses anjos, mas faltava o principal, o dinheiro.

Levei dezenas de nãos. Nossa. Nem vou aqui citar pessoas que sequer me recebiam, outros me perguntavam: você é de qual TV? Quantos seguidores vocês tem? Onde é a sua rádio?

Quando falava que tinha um Blog, o semblante da pessoa chega mudava. Era um balde de água fria. Eu já achava que seria impossível. No entanto, foram muitos dias de perseverança, de orações, de fé, de muito trabalho e, claro, anjos aparecendo na minha vida.

Com a ajuda deles, de alguns patrocinadores (que acreditaram no meu projeto PINGOLBET LOCBAGJM & G ESPORTES E CALÇADOS), da minha família, da minha esposa e principalmente de Deus, foi possível ir fazer a cobertura da Copa do Mundo no Qatar.

Sozinho, com receios, sem saber falar inglês, árabe, espanhol ou francês, sem nunca ter ido ao Oriente Médio, e ainda com um fuso de 6 horas em relação ao Brasil, mas com muita coragem, muita força, trabalho e muita fé, foi ESPETACULAR.

O povo árabe é maravilhoso. São atenciosos e fazem questão de ajudar. A Fifa e o Qatar disponibilizaram uma estrutura impressionante. Restaurantes, transportes, internet e voluntários para não deixar faltar nada. Eu precisava me preocupar só em trabalhar.

Claro que pra mim não era assim. Eu andava sempre segurando a mochila, procurando minha carteira e meu passaporte na mochila (para não perder). Só comia o que na minha pobre visão e conhecimento não poderia me fazer mal (dor de barriga). Estava sempre colocando a mão no bolso para saber se o celular estava comigo.

Aliás, em determinados dias, eu parecia ser aquele meme da mulher que está amamentando a criança, ela olha pra carrinho não vê a criança e se desespera, depois percebe que está com a criança no peito. Eu às vezes era assim. Com o celular no ouvido ligando ou falando com alguém e desesperado procurando o aparelho no bolso, na mochila, em cima da mesa. Quando percebia, eu ria e via o grau de estresse em que me encontrava.

Tudo isso valeu a pena demais. Na verdade, foi um sonho. Eu praticamente todos os dias parava, olhava pro tempo e ficava sem acreditar que estava em Doha, numa cobertura de Copa do Mundo. Os Diários de Bordo, que estão neste Blog, mostram como foram o cotidiano. As dores, as alegrias, os estresses, as emoções, a saudade e a felicidade. Recomendo depois você ler.

Eu serei sempre grato àqueles que me ajudaram a realizar este sonho. Foram 29 dias intensos de muito, muito trabalho. Tanto que só tirei 2 dias de folga e não conheci praticamente nada do Qatar, e olhe que queria muito pelo menos ver alguns pontos turísticos. Mas valeu cada instante em que estava numa coletiva, num treino, num jogo, no centro de mídia, na zona mista, fazendo matéria, gravando, escrevendo ou sonhando.

Parecia ser impossível, mas aconteceu, foi arrebatador e inesquecível viver tudo isso. Agora, é sonhar e acreditar novamente para ir à Copa do Mundo de 2026, nos Estados Unidos.