
Em 1995, um dos grandes nomes do futebol brasileiro, o ex-atacante Edmundo, se envolveu num acidente de carro, que matou 3 pessoas e deixou outras 3 feridas. Em 1999, o jogador foi condenado a 4 anos de prisão. Edmundo dirigia em alta velocidade, mas o outro carro envolvido avançou a preferencial.
Por muito tempo e (segundo ele próprio) até hoje torcedores do Flamengo chamam Edmundo de assassino. O ex-jogador pagou indenização às famílias da vítimas e paga pensão vitalícia a um dos sobreviventes.
Em 2019, o atacante Neymar, do PSG, foi acusado de estupro contra a modelo Najila Trindade. O MP concluiu que não havia provas contra o atleta da Seleção Brasileira e a Justiça arquivou o processo.
Pouco tempo depois, a Nike rompeu contrato com Neymar.
Em 2020, o atacante Dudu, do Palmeiras, foi acusado de agressão contra a ex-mulher Mallu Ohana. A Polícia concluiu que não havia elementos para comprovar tal ato. E a conduta da denunciante poderia ser investigada por “denunciação caluniosa, falso testemunho”.
1 mês depois da acusação, Dudu deixou o Palmeiras e se transferiu para o Catar. Depois de inocentado, voltou para o clube alviverde no ano seguinte.
Nesta semana, a Justiça italiana, em 3ª e última instância, manteve a condenação ao atacante Robinho, ex-Santos, por crime de violência sexual em grupo. A transgressão aconteceu em 2013. O atleta foi condenado a 9 anos de prisão. O jogador não cumpriu a pena ainda.
Os 4 casos acima mostram que há culpados e inocentes, vítimas e infratores. Em todos eles, há algo comum: o linchamento público. Independentemente de antes ou depois da Justiça declarar a sentença, os acusados já foram condenados pela opinião pública.
Com o avanço das redes sociais, as informações, as notícias, os boatos, as fakes news foram potencializadas. Um simples tuíte pode destacar um episódio e levar a um debate na rede, nos grupos de zap, nas rodas de bar, nos maiores veículos de comunicação do País e até do mundo. Independentemente se é verdade ou não.
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Talvez este seja o problema. A verdade, o fato, o correto parecem que dependem do ponto de vista de quem divulga ou de quem a favorece. Qual o interesse de noticiar uma mentira? Na década passada, o Corinthians resolveu construir o estádio próprio, que virou palco da abertura da Copa do Mundo de 2014. Foi divulgado que o Governo Federal havia pago o estádio para o clube paulista. Quase 10 anos depois do início das obras, o valor total foi de quase R$ 1 bilhão, o Corinthians ainda tem uma dívida superior a R$ 400 milhões.
Esse e muitos outros episódios semelhantes viraram um dos males deste admirável mundo novo em que uma hashtag tem mais força do que uma multidão em passeata. Em que é mais fácil acusar do que provar. Em que é mais fácil linkar do que apurar.
Mas há esperança nesse admirável mundo novo. Em 2019, Gabriela Moreira e Rodrigo Capelo, jornalistas do grupo Globo, publicaram uma reportagem em que mostravam os escândalos cometidos pela administração do Cruzeiro. Os 2 repórteres foram perseguidos e massacrados por parte da torcida da Raposa. No final do ano, o time do Cruzeiro foi rebaixado para a Série B do Brasileiro.
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Esse admirável mundo novo vive no meio de uma grande mudança em que é preciso discernimento de quem consome e de quem produz conteúdo. Claro que há erros de ambos os lados, mas se não houver critérios, pesquisas, conhecimento e principalmente credibilidade de quem divulga, espalha ou publica não haverá como fugir do caos.
Vanderlei Luxemburgo certa vez disse que: “o futebol é o retrato da sociedade”. Alguns foram mais longe e disseram que: “a sociedade é o retrato do futebol”. Eu creio que ambos precisam de uma boa luz para o retrato ficar melhor.
📸Arquivo/Jornal O Globo