A sabedoria ensina que não devemos tomar nenhuma decisão, quando estamos com raiva, felizes ou tristes. Como jornalista, esse princípio deve ser levado ainda mais ao pé da letra, porque minha decisão pode ser tomada em um comentário ou numa postagem. Por isso, escrevo esse texto um dia depois do ocorrido, já recuperado da forte pancada.

Assim como em todos os outros times de futebol, nas entrevistas coletivas realizadas pelo Ceará, seja de forma virtual ou presencial, a comunicação do clube pede para que o profissional de imprensa se identifique antes de fazer a pergunta. Eu me apresento como Mário Kempes, do Blog do Kempes e do TVC Esporte Clube. Raríssimas vezes, me apresentei apenas como Mário Kempes, do Blog do Kempes.

Então, para minha surpresa, tristeza, decepção e sentimento de injustiça, na tarde dessa terça-feira, 29 de março, fui informado pela comunicação do Ceará, primeiramente pelo Assessor de Imprensa, Abreu Neto, e depois pelo Gerente de Comunicação, Israel Simonton, que eu não poderia mais me identificar nas entrevistas coletivas como: Mário Kempes, do Blog do Kempes, e sim, apenas como: Mário Kempes, do TVC Esporte Clube.

O motivo é que o meu credenciamento para participar e fazer a cobertura das entrevistas coletivas e treinamentos é feito através do programa da TVC e não pelo Blog. De acordo com a comunicação do Ceará, o impedimento de falar o nome do meu Blog não é uma censura, é apenas uma recomendação.

Segundo os dois jornalistas, Israel e Abreu (a quem eu percebi claramente o constrangimento pela “recomendação” e a sensação de que isso não é necessário), há pessoas dentro e fora do clube, que questionaram minha apresentação ao falar que sou do Blog do Kempes, pois o Ceará Sporting Club proíbe o credenciamento de blogs, portais, canais e sites ligados a torcidas.

A minha primeira reação foi a de achar que era uma brincadeira. Afinal, quem poderia se sentir incomodado com algo tão banal para um clube tão grande? Qual prejuízo para um clube conhecido como “Time do Povo” recomendar que um jornalista não identificasse o outro meio em que ele trabalha? O que beneficia um clube em que a 1ª frase do seu hino é “Teu Passado é Todo Coberto de Glórias”?

No entanto, foi possível perceber que é verdade. Argumentei, expliquei, exemplifiquei, mas a recomendação é irredutível. Assim, bateu em mim um sentimento de tristeza, de injustiça, de impotência.

Trabalhar de forma independente, sem a ajuda de uma mídia poderosa por trás, sem ter um salário fixo, ouvir pessoas dizerem que não falam para a minha mídia, só para outra, escutar relatos de entrevistados que não me conhecem e por isso não querem falar comigo, só se trabalhar em emissora A ou B, e ainda saber que o grande tem mais força que o pequeno e que muitas vezes a vitória de Davi sobre Golias foi apenas uma história bíblica machucam demais.

Recentemente, fui vítima de um profissional de comunicação que cometia perversidades, usando o nome de atletas e dirigentes para se passar de bom moço, quando na verdade, os próprios atletas e dirigentes nem sequer sabiam de tais procedimentos.

Mesmo assim, sigo tomando doses de coragem diariamente para seguir firme, tento ter resiliência constante e aprendo dia a dia que as injustiças acontecem e que os vilões aparecem principalmente quando o trabalho é feito com honestidade, credibilidade e respeito.

Durante todos esses anos como profissional, seja no jornalismo, onde cobri Copa do Mundo, trabalhei em grandes empresas do Estado e do País, fui assessor de comunicação no Poder Legislativo, Judiciário e Executivo, seja como técnico de Informática (fui por 10 anos), aprendi a respeitar a hierarquia.

Vou respeitar a “recomendação” do Ceará. Em entrevistas do clube, apenas do Ceará Sporting Club, não falarei mais Mário Kempes, do Blog do Kempes.

Encerro esse texto lembrando de uma história real, que virou filme: “À Procura da Felicidade”. O personagem principal, Chris Gardner, interpretado maravilhosamente bem, por Will Smith, passou por enormes desafios e precisou superar muitas adversidades. Em determinado momento do filme, o filho de Chris, Christopher (filho na vida real de Will Smith) diz que é muito bom no basquete, mas Chris faz pouco caso e diz que o filho vai ser como ele, abaixo da média. O filho fica triste e joga a bola de basquete pra longe. Vendo a besteira que falou, Chris diz a frase que mudou a sua vida: “Nunca deixe ninguém te dizer que não pode fazer alguma coisa. Nem mesmo eu. Se você tem um sonho, proteja-o. As pessoas não conseguem vencer e dizem que você também não vai vencer. Se você quer uma coisa, corra atrás”.