Claro que o futebol brasileiro precisa de uma mudança. Claro que precisa de uma reformulação. Mas o mundo ideal é bem diferente do mundo real. Basta lembrar da maior humilhação sofrida por uma seleção numa Copa do Mundo.
O 7×1, na semifinal de 2014, em pleno Mineirão, deveria ser o estopim para uma reforma completa, desde a meninada que joga na várzea até os craques espalhados pelas principais ligas do planeta. Mas não teve nada disso.
Aliás, pelo contrário, a CBF até quis começar algo novo, criou uma academia de estudos em que são formados treinadores do infantil até para comandar uma seleção. E o que aconteceu? Houve uma invasão de técnicos estrangeiros. Dos 20 clubes da Série A do Brasileiro de 2023 10 são forasteiros.
A ousadia, o talento, a técnica, a ginga brasileira parecem não ter conseguido se aliar a planilhas, aplicativos de celulares e a programas de computadores, que levam a exaustão palestras e dados sobre tática, força física, estatísticas e minutagens espalhadas pelos gramados tupiniquins.
Criar fórmulas, teorias, projetos e planos para fomentar o futebol nacional é fácil. Difícil é colocar em prática sem saber a realidade de um País continental. Pra começar, há um abismo financeiro, técnico e até xenófobo do Oiapoque ao Chuí.
Vamos a apenas 3 exemplos. clubes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste são preteridos em qualquer seleção. Da base à principal. A principal, nem vou ousar citar. Mas as Sub-17 e Sub-20 tiveram apenas 1 atleta convocado, do Vitória/BA, entre mais de 50 jovens chamados. Sério que não há em 19 estados mais de 1 garoto que pudesse compor essas equipes?
Se não bastasse, jogadores profissionais de clubes de ponta do Sul e do Sudeste são alijados de convocações em favor daqueles que jogam na Europa, mesmo estes com ressalvas técnicas. E pra completar, as 20 agremiações da 1ª Divisão Nacional não conseguem se unir para criarem uma Liga, porque o interesse financeiro é maior que o interesse esportivo.
Mas isso é apenas a ponta do iceberg. Quem dera o preconceito, o local de nascimento (ou de atuação) e o dinheiro fossem a solução para os problemas. Ou melhor para o Brasil conquistar o hexa. Aliás, creio que o desejo é apenas esse. Voltar a levantar a taça.
Quem é que está realmente preocupado em um projeto longo, duradouro e que corte na própria carne, ainda mais com 24 anos sem uma conquista mundial? Talvez por isso, que é muito mais fácil trazer um treinador estrangeiro, jogar toda a responsabilidade e pressão no forasteiro e pronto. Se ganhar, ótimo: “essa é pra vocês seus filhos da puta” (parafraseando Dunga). Se perder… (cala te boca).
O fracasso em 2022, acumulado com os outros 4 mundiais, faz buscar o imediatismo. E aí, é difícil fazer uma análise mais profunda sem a emoção e o desejo de acabar logo com esse flagelo de sempre ser eliminado por europeus.
Como diria João Ubaldo Ribeiro: o buraco é mais embaixo. Talvez, o primeiro passo seria reconhecer o problema. Mas aí é querer demais, né? Admitir e ainda ter que resolver é muita coisa para um Brasil, que é pentacampeão e é o País do futebol. Mesmo sem a Seleção ser campeã do mundo há 24 anos, 1 clube, há 10, e 1 jogador não ser bola de ouro há mais de 15.