
A cultura messiânica de haver somente um salvador, ou de existir apenas um carrasco sempre entrou em campo no futebol brasileiro. Apesar de o esporte ser coletivo, diferentemente de outras modalidades como boxe, tênis ou golfe.
Em 1994, nos Estados Unidos, Romário foi considerado o grande protagonista do Tetra. “O baixinho ganhou aquela Copa sozinho”, dizem os mais eufóricos. Enquanto o ex-atacante sempre lembra que sem Taffarel, Dunga ou Bebeto, por exemplo, o Brasil jamais seria campeão.
Em 1986, o Brasil perdeu para a França nos pênaltis, mas no tempo normal, Zico perdeu um pênalti. Até hoje é considerado como o responsável pelo insucesso da Seleção no México. Apesar de ter convertido a cobrança após a prorrogação, enquanto Sócrates e Júlio César erraram.
Pelé em 1958, Felipe Melo em 2010, Garrincha em 1962, Felipão em 2014. É até natural se criar heróis e vilões no futebol brasileiro para definir o fracasso ou o sucesso numa Copa do Mundo. Satisfaz o ego ou gera uma catarse para a dor.
O que acontece agora em 2022, com a eliminação para a Croácia, é tentar buscar um vilão. Afinal, sair da Copa da forma como aconteceu: nos pênaltis, sem o craque do time bater a cobrança e ainda com a Seleção levando o gol de empate a 4 minutos do apito final do 2º tempo da prorrogação causam um misto de revolta e decepção, indignação e frustração.
E aí complica ao admitir que o adversário foi inteligente. Isso é quase um atentado. Ou reconhecer que o goleiro rival foi o grande protagonista? É exagero. A derrota (quase) nunca é causada pela vitória do oponente, sempre é pelo demérito próprio.
E assim como não é possível permitir que um time de menor tradição, que nunca foi campeão e que não tem os melhores jogadores possa ganhar do meu, como é que vou aceitar que a Seleção Brasileira vá ser eliminada para a Croácia da forma como ocorreu?
Infelizmente, a imparcialidade em uma cobertura jornalística é arrefecida. A torcida para o Brasil ser campeão é evidente, então, é difícil imaginar que as opiniões, de quem quer seja, do mais jovem ao mais experiente jornalista, cronista ou comunicador sejam feitas de forma neutra.
Então, muitas vezes, quem analisa, escreve, fala, exibe e opina é o torcedor e não o jornalista (não todos). Por isso, é preciso dar um desconto e ao mesmo tempo ter consciência de que na dor, na tragédia, ou na infelicidade, muitos, precisam apontar culpados. Resta saber se você concorda.