Não havia chance melhor para o Ceará conseguir a tão sonhada 1ª vitória fora de casa e embalar no Brasileirão. O adversário era o vice-lanterna, havia vencido apenas uma vez nas últimas 8 partidas e ainda estava cheio de atletas com Covid. Para completar, Guto Ferreira podia repetir a equipe, que fez ótima apresentação no empate diante do Flamengo, no domingo passado.

No entanto, em nova atuação irreconhecível, o Vovô mostrou um futebol muito abaixo, padeceu numa postura fraca, sem força, sem atitude, com os principais jogadores apagados e viu o América/MG marcar 2×0, com um gol em cada tempo marcado por Fabrício Daniel, e não sofrer mais, porque Richard defendeu um pênalti.

Aliás, o Ceará encerrou a participação no 1º Turno do Brasileirão sem vencer fora de casa. A derrota neste domingo, em Belo Horizonte, foi o último duelo longe do Castelão. A partida contra o Palmeiras (pela 19ª Rodada) foi adiada (ainda sem data definida). Com isso, o Vovô vai voltar a jogar agora diante do Grêmio, em Porto Alegre, na abertura do Returno.

O que eram 11 jogos sem derrotas, se transformaram em 4 partidas sem ganhar. E a sina de “Robin Hood” (tirar dos ricos para dar aos pobres) se manteve. Da turma do Z4, o Ceará caiu para o América/MG, sofreu com dois 0x0 diante da Chapecoense e do Sport e só levou o 3 pontos contra o Grêmio. Em compensação, da turma de cima, bateu o Atlético/MG e o Fortaleza e por pouco não saiu de campo vitorioso nos empates contra Red Bull e Flamengo.

Neste 1º Turno, não faltaram oportunidades para o Ceará embalar de vez. São 5 vitórias, mas nenhuma em sequência. Lá na abertura, contra o Grêmio, mesmo com os reservas, ganhou com gol no último lance por 3×2. Em seguida, 4 partidas sem vencer. A nova chance apareceu diante do temido Alético/MG, no Castelão, vitória por 2×1, novamente no último lance.

Mas outra vez, não empolgou. Foram dois empates para depois bater o Juventude por 2×0. Até então, a sequência invicta (5 duelos sem derrotas), era o grande trunfo. Depois, mais dois empates (contra Fluminense e Cuiabá) e em seguida nova vitória por 1×0 com gol no último minuto sobre o Athletico paranaense.

Tudo parecia que ia embalar pra valer com a brilhante virada em cima do arquirrival Fortaleza por 3×1, e a incrível sequencia de 10 partidas sem derrotas. Só que no jogo seguinte, um 0x0 tenebroso em casa contra o Atlético/GO, por 0x0, esfriou tudo. Para piorar, na rodada posterior, derrota para o Corinthians por 3×1 e o fim da invencibilidade de 11 jogos.

Mas o 1×1 diante do Flamengo, uma semana depois do revés em São Paulo, parecia um sopro de esperança. Chegou o duelo diante do América/MG e novamente, uma partida irreconhecível.

Com os rivais vencendo e se aproximando na tabela de classificação, aquela gordura e posição de destaque entre os 10 primeiros praticamente acabou. O Ceará tem hoje 24 pontos. Está a 3 do G6, mas somente a 4 do 13º e 14º (Juventude e Cuiabá, que têm jogos a menos e são os primeiros fora da zona de classificação para a Sul-Americana). Lembrando que os concorrentes estão com um ou até dois jogos a menos. E o 8º lugar do Alvinegro hoje, pode ser até o 11º quando todos estiverem com o mesmo número de 18 duelos disputados.

Por isso, elenco, comissão técnica e diretoria do Ceará precisam rever conceitos. De início, sou contra a mudança de treinador. Guto tem seus defeitos, suas teimosias, mas já mostrou que tem qualidade e principalmente entende de futebol. Ninguém conquista o que ele conseguiu ano passado na sorte ou apenas com a força dos jogadores.

O problema é que chega um momento em que é preciso rever conceitos, reconhecer erros e principalmente tomar atitudes para sair da mesmice. Ano passado, as conquistas foram históricas e por isso o sarrafo subiu, a cobrança é maior e a exigência por futebol de qualidade e principalmente por resultados melhores também. E qualquer coisa abaixo do que foi em 2020 causa um grande ruído e estrondos fortes por parte do torcedor e da imprensa.

Antes, havia (o justo) argumento da sequencia de jogos, do desgaste físico e da falta de treinos. Faz mais de 40 dias que o Ceará só joga aos finais de semana. Depois, o argumento era sobre jogadores machucados, os principais estão disponíveis há pelo menos 6 rodadas.

Ou seja, fora das quatro linhas parece que tudo está bem. Então, é fazer mudanças no time e no esquema tático. Lembra do que o Lisca fez em 2015? Na estreia apanhou de 3×0 para o Criciúma fora de casa, mas com aquele mesmo time condenado ao rebaixamento à Série C, ele fez mudanças essenciais na posição do Baraka, Wescley e Ricardinho, e ainda fez Siloé desencantar e João Marcos voltar a ser o gigante do meio-campo.

Claramente alguns jogadores do elenco atual, até então considerados titulares absolutos, não conseguem mostrar um bom futebol. Hora de dar chance a outros, mudar o esquema e, principalmente, ousar antes e durante as partidas. Do contrário, o risco de seguir em queda livre é enorme.

📸 Israel Simonton/Cearasc