
Não é invenção e nem é algo inédito, a criação de uma Liga no futebol brasileiro já foi criada em anos anteriores e fracassou. Motivo: os clubes não se uniam e tentaram beneficiar de alguma forma times do chamado G12 (os 4 do Rio, os 4 de SP, os 2 de Minas e os 2 gaúchos).
Quem não se lembra da Copa União de 1987? E a tal da Primeira Liga, que criou até uma competição? Enfim, o futebol brasileiro é pródigo nesse aspecto de buscar alternativas para “melhorar” a vida dos clubes. A do momento agora é essa: os 20 presidentes dos clubes da Série A (o Sport, depois, confirmou que é a favor, pois o atual presidente renunciou ao cargo) entregaram um documento à CBF comunicando a criação de uma Liga para gerir e organizar o Brasileirão.
O que mais me incomoda é que a turma tenta porque tenta comparar o futebol brasileiro com a Inglaterra, com a Espanha, a Itália, a Alemanha. Países, que, juntos, são do tamanho da Região Nordeste. O Remo e o Vasco estão na Série B do Brasileiro, e podem subir para a elite em 2022. Vai haver equilíbrio financeiro entre os dois ou a tradição vai pesar?
Ceará, Athletico e Fortaleza, pra ficar apenas nesses 3, juntos, possuem uma dívida de menos de R$ 100 milhões. Só o Atlético/MG, que contratou Hulk e Nacho, tem um débito de R$ 1,2 bilhão. Vai haver Fair Play Financeiro para o Galo?
A divisão financeira das cotas de TV é assim: uma parte é repartida de forma igual, mas o restante é feito por número de jogos transmitidos e classificação final. Com sinceridade, quando um time cearense vai conseguir receber valores próximos de um Flamengo ou Corinthians?
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Ah Kempes, mas tu quer comparar o Flamengo, o Corinthians, times gigantes, com títulos mundiais, dono das maiores torcidas do Brasil, com os cearenses? Se a Liga vai seguir beneficiando os grandes, pra quê Liga? Sabe as cotas para negros nas universidades? Pois é, como é que se consegue equilibrar a segregação abissal entre negros e brancos?
Ou seja, se não houver uma estancada também na segregação do futebol, quem é grande, segue grande. Quem tem dinheiro, ganha mais dinheiro. E assim o abismo vai só crescendo.
Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Grêmio, Inter e os outros do G12 já ganham quantias absurda com patrocinadores e com suas imensas torcidas. O Flamengo recebe mais de R$ 100 milhões só de marcas estampadas nos uniformes. É praticamente o orçamento total anual do Fortaleza na temporada.
Se o G12 vai seguir mandando no País, por causa da tradição, dos títulos ou pela história, qual a diferença de deixar o Campeonato com a CBF? É preciso uma união dos outros clubes para que isso acabe. Ganhar um Campeonato Brasileiro com uma receita de 200 milhões só da TV é fácil. Quero ver levantar a taça recebendo R$ 33 milhões.
Aí, na única divisão que é possível haver equilíbrio, ainda querem também ficar com a maior fatia? Que Liga é essa? Que união é essa?
Outro ponto interessante. Recentemente foram convocados os atletas para a Seleção Brasileira Sub-15 e Sub-17. O Ceará foi o único clube do Nordeste que teve um jogador convocado para cada equipe. Uma exceção que comprova a regra. O desequilíbrio é incalculável. Você sabe qual é o percentual de jogadores da Região Norte e Nordeste que são convocados para seleções de base? Não chega a 5%. Se não fosse por Bahia e Vitória, era praticamente zero.
Você (claro já) sabe que os clubes do G12 ganham receitas milionárias com a venda de jovens atletas, que bem antes dessas negociações são convocados para as seleções de base. Quando o equilíbrio vai chegar para os outros clubes?
Pra fechar, ano passado o Flamengo viajou cerca de 30 mil km para disputar a Série A do Brasileiro. O Fortaleza viajou 80 mil km. Faz uma comparação com a Inglaterra, com a Espanha e vê se o Valência o Real Madrid, o Chelsea, o Leicester Villa viajam pelo menos metade disso aí.
O futebol brasileiro precisa de uma Liga para fortalecer todos os clubes e equilibrar essa desvantagem histórica, absurda e extremamente complexa. O desafio é imenso, mas o primeiro passo precisa ser dado. Só espero que o bom senso (algo tão distante no futebol) prevaleça mais do que a ganância (algo constante no futebol).